faz tempo que queria escrever sobre a Baia, um espaço que foi ocupado pelos interesses do monstro imobiliário mesmo que a mensagem divulgada seja diferente.
antes de mais, quero dizer que não existe qualquer intenção de retirar o mérito ao projecto de requalificação da Baia, uma ideia que na verdade melhorou consideravelmente o lugar e levou o cidadão a rua, coisa praticamente inexistente na Luanda de hoje. a questão no meu entender está na forma em que o espaço tem sido gerido, com conceitos esquisitos e de difícil compreensão, sendo que como em diferentes partes do mundo, as praças, jardins ou espaços públicos tem como principal beneficiário o citadino.
a requalificação da nossa Baia trouxe zonas pedonais, zonas de relaxe, zonas para prática de desporto, zonas de lazer familiar, mas me preocupa que trouxe também zonas de uso exclusivo para eventos que nada beneficiam o citadino. o casamento do fulano, a festa de branco da produtora x e até mesmo o evento de aniversário do banco b, são acontecimentos que aproveitaram-se de um espaço que nunca deveria ser usado para esse fim... mesmo que muitas opiniões digam que as coisas não são bem assim, a verdade é que a maioria das iniciativas que acontecem naquele espaço público, o acesso é quase sempre cobrado sem que os organizadores deem nada em troca ao cidadão. a gestão da Baia tem que perceber que o principal beneficiário daquele espaço é o cidadão e não o bolso de quem tem a ideia de usar um espaço público para arrecadar receitas.
é preciso também que as grandes empresas locais percebam que as iniciativas de entretenimento sem qualquer custo para o citadino são um investimento e nunca uma perca... as grandes cidades usam o método como forma de compensar e até retribuir a massa trabalhadora que lá vive... Sons do Atlantico ou Baia Mágica são os únicos exemplos que me veem a mente de eventos que usam aquele espaço público com foco no cidadão.
no sábado fui conhecer o novo conceito Shopping ao Ar Livre, uma ideia que não percebi de todo como será principalmente pelos preços praticados para quem quiser comer um hambúrguer ou beber simplesmente água! é verdade que ouvir música ao vivo, praticar salsa com as crianças ou ter alguém que desenhe caricaturas tudo isso grátis não é uma ideia normal em Luanda e estou feliz que assim seja... mas nunca percebi qual é ideia de criar um jardim público onde é proibido que uma família com filhos, um casal de namorados ou grupo de amigos possam sentar a relva e fazer um piquenique com um snack levado de casa. a manutenção de um espaço público é da responsabilidade das entidades públicas ou do privado que for escolhido para gerir o espaço, mas a proibição é injusta porque limita o cidadão no desfrute de um espaço que lhe "pertence". a quem levante a questão que muitas vezes são os próprios luandenses que danificam os espaços públicos por falta de formação e outros factores... os defensores dessa tese esquecem-se quase sempre que a cidadania não é um comportamento que se cria com leis, construção de espaços bonitos ou mensagens de desenvolvimento... a cidadania de um povo cria-se com investimento na educação que é base da resolução de muitos dos problemas que vivemos em Luanda, daí o questionamento das prioridades que muitas vezes criam episódios como os da relva da Baia.
afinal, o que é prioritário no cronograma de investimentos que um país faz para o seu cidadão... a construção de um jardim que não se pode ter acesso por receio que seja destruído ou a construção de escolas de base para investirmos na educação daqueles que amanhã com certeza saberão usar um jardim público.
por cá, continuamos a inventar conceitos esquisitos, muitas vezes porque não nos rodeamos da assessoria dos melhores e também porque copiamos mal aquilo que noutras paragens foi bem feito.