em
2014 recebi uma chamada da Geração 80 para uma conversa e o tema era Angola Nos Trilhos da Independência. na primeira
abordagem que me foi feita pelo Jorge Cohen, a ideia era fazer parte de uma
viagem ao interior de Angola em 90 dias mas que infelizmente tive de recusar
por indisponibilidade. e digo infelizmente porque foi assim que me senti depois
daquela conversa. conhecia tão bem o projecto de fora e fazia tempo que o
acompanhava, por isso, recusar foi mesmo uma resposta que não queria dar.
mas
as boas histórias não terminam assim. no segundo telefonema e já com uma
proposta de trabalho mas sem viagens, o sim foi sem qualquer hesitação nem
truques de negociação.
não
vou falar muito sobre o projecto, acredito que já se escreveu o suficiente, mas
talvez ainda não tenha lido qualquer texto que se foque na questão do
ajuntamento de duas gerações completamente diferentes. para outras sociedades
isso pode até nem ser novidade, mas para nós miúdos angolanos e africanos, não é
normal estar perante cotas que numa reunião escutam o teu ponto de vista e
acatam porque sabem que aquela área não dominam... e mesmo quando discordam,
não o fazem por se sentirem mais velhos, fazem-no porque na opinião deles o
caminho que deveríamos seguir é outro que propõem. foi uma das primeiras coisas
que me chamou atenção quando entrei para esse trabalho.
depois
foi deparar-me com a grandeza, uma grandeza diferente daquela que normalmente
circula pela sociedade angolana. por cá, um projecto é grande quando demonstra
o seu poderio financeiro, faz parte e é assim que infelizmente nós os angolanos
nos movimentamos e nos apresentamos ao mundo. nos trilhos, havia grandeza no
planeamento, nas escolhas, na organização, nos detalhes, na responsabilidade,
nas decisões, havia ponderação de uma equipa tão pequena que por si só é também
um sinal que a forma na quantidade humana como esse projecto foi trabalhado se
difere do que normalmente se faz por cá.
de
11 de novembro de 2014 à 11 de novembro de 2015 os meses passaram num estalar
do dedo que quando me apercebi já estava sentado na ATD a ver versão não
finalizada do documentário Independência. não lembro agora se na altura já era
este o titulo escolhido, mas recordo as emoções de ouvir aqueles testemunhos, mas
nunca me esqueço de ter olhado para o filme como um suspiro por estar a ver
pela primeira vez uma abordagem de uma parte da luta para independência numa
visão sem política. sim, é verdade que o filme apresenta os movimentos, mas o
filme apresenta os movimentos de uma forma humana, onde são os cotas que falam
por mais que discordem um dos outros (no passado, hoje e talvez para sempre!),
a verdade é que o alivio de um país independente aparece nos olhos de todos
eles.
Independência
não é um documentário fechado e isso para mim é também uma das qualidades do
filme, Independência é uma conversa que continua em aberto principalmente
porque ele surge de um projecto que tem como objectivo a pesquisa e consequentemente o debate de diferentes
pontos e com argumentos no material que foi recolhido e historicamente
trabalhado.
pessoal
e profissionalmente fez-me bem trabalhar num projecto como esse, não só pelo
que aprendi mas também pela forma como mudou a maneira que agora olho para
história, a nossa história. em África tudo que está relacionado com os mais
velhos normalmente é considerado monumento de tal grandeza que existe um
afastamento para os jovens, o respeito é tanto que por vezes se confunde com
medo e isso nos afasta dos cotas que muitas vezes acham que ainda não estamos
preparados para ouvir algumas coisas. é tão forte essa falta de contacto, esse
conhecimento de muitas histórias, que ao ver o filme me pergunto como é que é
possível que uma memória consiga guardar por tanto tempo tantas histórias de
sofrimento!
no
final do filme há também uma revelação, que aliás, está omnipresente em todo
filme. no dia em que vi a versão final já com os créditos, chamou-me atenção o
nome Mário Bastos no final, não sei explicar, mas era como se estivesse a olhar
para a imagem de uma pessoa tão pequena a levantar um peso enorme! no mesmo
dia, já no carro a caminho do almoço perguntei ao Mário se sabia do real
significado de ter o nome dele colado a palavra realizador (acho que a pergunta
foi diferente). não sei se a resposta que ele deu no momento convencia a ele
próprio!
na
ante-estreia no cinema Atlântico, ouviram-se os primeiros gritos justamente no
momento da subida dos créditos em que aparecia a palavra realizador junto do
nome Mário Bastos. desconfio que aqueles gritos foram dados por pessoas/jovens
que pensaram o mesmo que eu.
sim,
é possível.
para quem não teve oportunidade de ver o filme nos cinemas, fique atento ao site e ao facebook, estão lá as novidades.
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